sexta-feira, 8 de novembro de 2013

ENTREVISTA GOIÁS - SETEMBRO DE 2013

 Foto: Sávio Leite


Entrevista para o Jornal O Popular de Goiânia como convidado da III Semana do Audiovisual mas não publicada em setembro de 2013.


1)      Qual sua formação acadêmica e sua história profissional até a sua entrada no Mumia.
Sou formado em Relações Publicas com Mestrado em Artes Visuais pela UFMG. Quando estava para formar em 1993 fui orientado pela cineasta Patrícia Moran. Em 1995 através da cineasta Tania Anaya conheci o cinema de animação por meio de uma oficina de inverno ministrada pelo cineasta português Abi Feijó e pelo alemão Raymmund Krummer. Foi um amor instantâneo. Em 1998 a UFMG ofereceu um curso de roteiro infanto juvenil para uma futura série (não concluída) do Menino Maluquinho. Nesse curso a animação me absorveu profundamente. Já gostava de um cinema mais critico e com a animação pude perceber que além de critico poderia ser também subversivo.
Comecei no cinema de animação em 2000 com a produção de “ O vento” (2004) embora dois outros tenham ficado prontos antes: Mirmidões (2001) e Marte (2003), curtas feitos em parceira com Clécius Rodrigues que conheci na produção “ Castelos de Vento” (1997)de Tania Anaya, o qual fiz o making of.

2)      Descreva a mostra múmia: história, atuação, resultados dos eventos. Concepção da produção da mostra.
A MUMIA surgiu em 2003, primeiramente como uma forma de divertimento e de reunião de amigos e tinha um único lugar de exibição: o Museu Histórico Abílio Barreto em Belo Horizonte. A MUMIA nasceu também através de uma revolta contra os poucos festivais de visibilidade que existiam no estado de Minas Gerais e que pouco exibiam da produção mineira. Primeiramente no MUMIA exibíamos poucos filmes internacionais. Como eu circulava por festivais brasileiros e internacionais de cinema por fazer muita troca, pegar muito material e tomar conhecimento de uma produção pulsante e recente.
A MUMIA desde o inicio aderiu a ideia de não ter seleção e exibir tudo que nos é enviado. Proposta ousada mas que no decorrer das edições se revelou uma ideia acertada. Hoje o MUMIA exibe anualmente mais de 200 filmes de todos os continentes e tem uma competição especifica para produções mineira, brasileira e internacional. Nossa próxima meta é ter um lugar onde possamos fazer uma fundação onde guardaremos o acervo e disponibilizaremos uma biblioteca para consultas e trabalhos acadêmicos, uma sala de projeção e salas para oficinas. A MUMIA também faz parte do calendário turístico de Belo Horizonte e pertence ao Guia Kinoforum de festivais brasileiros.

3)      Quais são as suas influências no cinema e no audiovisual? O que normalmente você vê?
Gosto de vários cineastas varia escolas e modos de pensamentos. Poderia citar:  Glauber Rocha, Jean Luc Godard, Luis Buñuel, Alfred Hitchcock, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Rogério Sganzerla, Alejandro Jodorowsky, David Lynch, Stan Brakhage e Andrei Tarkovsky. Da animação: Len Lye, Norman MacLaren, ladislau Starewicz, Chuck Jones, Jan Svankmajer, Osamu Tezuka, Bill Plympton, Matt Groening . Vejo muita animação, mas outras coisas também. Existe uma produção muito interessante sendo feita em todos os gêneros. Não considero influencias, mas sim como intercessores que fazem a vida ser mais palatável.

4)      Em palestras, aulas e eventos que você já participou, qual é a preocupação e busca mais incessantes de profissionais e pesquisadores que querem se enveredar pela animação no cinema?
O cinema tem um glamour de riqueza, luxo e ostentação que seduz muitas pessoas. No cinema de animação existe certo fetiche de como fazer, o que dizer e de que maneira dizer. Encanto que se quebra invariavelmente quando se descobre o como fazer. Sua maneira sequencial é lenta de realizar.
Tento demonstrar o quanto gosto e acredito que a animação que esse querer contagia os alunos. Tento demonstrar que não existe separação entre o cinema de animação e o cinema com atores reais. Todos estão com o mesmo objetivo de propagar essa informação, ou mensagem, nem que seja de uma maneira abstrata.
A animação é um terreno fértil e estamos quase chegando ao seu “boom”. Ainda a animação precisa se livrar do estigma de ser somente voltada para o  publico infantil. Alguns filmes magistralmente estão passando o contrario. Por ser extremamente lenta de se fazer, a animação se revela um campo nem tão competitivo assim, bastando a que se aventura nesse caminho uma grande dose de persistência.

5)      Sobre autores e pesquisadores sobre animação, como você comentaria a pesquisa sobre animação no Brasil? Temos muito pesquisadores? E publicações? São suficientes?
As pesquisas sobre o cinema de animação no Brasil são pequenas. Durantes anos apenas existia um livro sobre cinema de animação escrito pelo professor da UFF, Antonio Moreno chamado: A experiência brasileira no cinema de animação de 1978. Este livro esta esgotado há anos. Em 2005 tivemos a publicação de Arte da Animação: Técnica e Estética Através da História de Alberto Lucena, onde conta didaticamente, mas sem ser maçante a historia e o desenvolvimento do cinema de animação. Recentemente também tivemos a publicação de dois livros sobre Walt Disney : Walt Disney – o triunfo da imaginação americana de Neal Gabler e A magia do Império Disney de Gina Nader. Uma bibliografia em três volumes e em mangá de Osamu Tezuka lançado em 2003. Um livro sobre a Pixar:  A magia da Pixar – Como Steve Jobs e John Lassester fundaram a maior fábrica de sonhos de todos os tempos  de David A. Price em 2009. Um livro sobre Tim Burton: O estranho mundo de Tim Burton de Paul A. Woods em 2011.  Temos  também:  Animation Now de Julius Wiedemann de 2004, Cinema de Animação – um dialogo ético no mundo encantado das histórias infantis de Carolina Lanner Fossati, Animaq – almanaque dos desenhos animados  de Paulo Gustavo Pereira de 2010, Os Simpsons e a filosofia de William Irwin,  Mark T. Conrad e Aeon J. Skoble de 2004, A grande arte da luz e da sombra de Laurent  Mannoni de 2003, Timing em Animação de John Obe, Tom  sito e  Harold  Whitaker de 2012 e Stop-motion de Barry Purves de 2011.
Ainda não é o suficiente, mas é um cenário mais vantajoso do que muitas décadas anteriores.

6)      Como é a sua outra 'faceta', a de professor universitária no Centro Universitário UNA? Qual disciplina leciona? A universidade é pra você algo que complementa seu trabalho de produtor e coordenador da Múmia?
Ser professor é estar num ponto privilegiado para a pesquisa e o conhecimento. Leciono no Centro Universitário UNA a disciplina de cinema de animação e disciplinas de Tidir – Trabalhos interdisciplinares, que me dão a oportunidade de pesquisar outras áreas do saber.
Ser professor me ajuda a ter disciplina e estar em constante atualização, alem de ter tempo também de continuar realizando filmes.
Como coordenador da MUMIA, tento conscientizar meus alunos da importância da pesquisa e como usar o blog da mostra como uma referencia de tudo que acontece em termos de animação no Brasil. Os melhores trabalhos dos alunos são convidados a serem publicados no blog.
O ensino da animação também pode ser de extrema ajuda para crianças e jovens inquietos e com dificuldade de concentração. Ajuda a criar e fortificar valores como a paciência e a persistência.

7)      O que é, basicamente, animação underground, o tema da sua oficina? No que e como ela se diferencia da animação mais comercial, que vemos, basicamente, na tv e no cinema hoje?
Boa pergunta. Considero a animação em si um gênero underground, tratado com menor cuidado e atenção, de difícil apreensão e critica. Na historia da animação, os grandes autores, sempre trabalharam em uma escala mais artesanal. Poucos são os que se tornaram industria. Minha duvida talvez resida no fato da animação sempre ser menosprezada por ser um gênero que se deu bem com o publico infantil. Por ser sequencial tem um confronto direto com as artes plásticas. Estaria assim em um “não lugar” até mesmo para os padrões cinematográficos hegemônicos como a ficção e o documentário. Mas é possível fazer ficções e documentários usando a animação também. E por ser quase invisível para a grande maioria das pessoas escondem perolas que tem o poder  de, em poucos minutos, mudar vidas, tamanha é a magia da animação.
Felizmente a produção animada que chega a TV hoje em dia é de excelente qualidade. A Tv sempre absorveu o que de melhor se produziu em termos de animação e hoje com incentivos governamentais estamos vendo bons exemplos brasileiros como é o caso de: Peixonaustas, Historietas assombradas (para crianças mal criadas), Anabel, Carrapatos e Catapultas e Meu Amigãozão. Um panorama inédito na produção brasileira.
Mas é possível estabelecer uma estética underground que nasce com James Stuart Backton para por Starewicz, Len Lye, Norman Maclaren, Savnkmajer e reflete nos dias de hoje nos trabalhos de Tim Burton e Michel Ocelot. Filmes feitos quase artesanalmente que elevam o cinema ao status da arte. Uma tendência que dialoga com outras varias tendências artísticas seja na literatura, na dança e na musica.

8)      Tendo como ponto de referência o tema do evento descrito acima, o que você espera encontrar na III Semana do Audiovisual? Que tipo de aluno ou de mercado de animação você pensa que existe em Goiás?
Espero encontrar um ambiente favorável e propício a trocas e intercâmbios. Pessoas curiosas e dispostas a contribuir para a difusão desse gênero tão peculiar. Sei que em Goiás a discussão sobre mercado e trabalhos acadêmicos sobre o cinema de animação seja bem menor do que Minas Gerais, visto que Belo Horizonte foi a primeira capital do país a ter um curso de graduação em cinema de animação, aliado a critica cinematográfica que é muito forte na cidade. Este tipo de cinema tem tudo para ser redescoberto pelas novas gerações. Espero encontrar alunos curiosos e bem animados.

9)      O que você conhece da produção de animação daqui? Alguma informação sobre nomes de produtores, cineastas? Algum contato anterior com profissionais já feitos por aqui?
Já exibi alguns trabalhos muito interessantes vindos de Goiás no MUMIA. Na nossa primeira edição exibimos o trabalho muito interessante e as vezes polemico de Andre Gavazza com os curtas: One of us cannot of wrong, Album de recordações e Petit Mort.No 2 MUMIA em 2004 exibimos Carne Seca (Ricardo Podestá – 2003) e Filme Ilhado(Paulo Guilherme Costa – 2004).  O Ricardo de Podestá vai aparecer em outras edições com trabalhos interessantes como Peixe frito (2005) exibido na MUMIA 5 em 2007 e Destimação (2012) e Tamanduá bandeira (2011) exibidos na MUMIA 10 em 2012. Podemos ver uma linha evolutiva no trabalho do Ricardo. No MUMIA 5 exibimos outro trabalho de um realizador goiano interessante: “Mágoa de Vaqueiro” (2006) de Dustan Oeven. No MUMIA 6 exibimos 14 Bis (2007) de Guilherme Gardini. O Ogro de Márcio Júnior e Márcia Deretti ganhou o premio de Melhor direção de arte no MUMIA 9 em 2011. No MUMIA 10 exibimos: Mostra tua cara (2010) de Maurélio Toscano de Carvalho e Koboi (2011) de Fabíola Morais também premiado.

10)   Qual será, basicamente, o teor do sua oficina na III Semana do Audiovisual da UEG?
 Uma breve exposição do desenvolvimento do cinema de animação através da historia por uma ótica underground, da margem, ate os dias atuais e a conscientização de que o cinema de animação pode tocar em assuntos pertinentes a sociedade atual.


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